[ Felipe + Vitor ] O protetor e o curioso.

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Durante a caminhada Arvad coletou alguns gravetos e galhos para ajudarem a iniciar uma fogueira quando parassem para descansar, ele e o homem resolveram parar em uma pequena clareira entre as arvores a beira do rio, o local era um pouco elevado e assim encontravas-se mais seco. Somente na terceira tentativa Arvad foi capaz de acender a fogueira, porem mesmo assim ficou grato por ter encontrado um caçador, com quem aprendera a técnica alguns meses atrás.

Com o fogo vivo na pequena clareira Arvad retirou suas roupas e as colocou para secar, a uma distancia segura do fogo. o homem havia ido buscar mais madeira para a fogueira. Aproveitando o momento de paz Arvad se refrescou no rio e bebeu um pouco de sua água, foi quando notou a lua cheia no ceu. Sentou-se sobre sua capa a beira do rio, as pontas dos seus pés roçavam a superfície da água, com a lua como plateia ele cantou.

A musica era de uma melodia suave e lenta. Ela contava uma historia. Um jovem sentado a beira de um lago questionava se algum dia ele amaria e seria amado, tomado de tristeza o jovem suplicava em prantos pela oportunidade de amar e ser amado. A Lua observava o rapaz, via a solidão o destruindo por dentro, ela sabia o mal que a era a solidão pois ela também era sua vitima. Sem pensar nas consequências a Lua foi de encontro ao jovem, desaparecendo completamente do firmamento. Quando seus olhares se cruzaram uma chama preencheu o vazio que existia dentro deles, eles se apaixonaram e amaram, como se mais nada houvesse na existência. Ao fim ela lhe disse... " Devo partir, mas quero que saiba que amou e foi amado como nenhum outro será, guarde em seu coração esses momentos pois os guardei para sempre..." ela sussurrou algo em seu ouvido, um som tão suave que ele nunca ouviria novamente..."Esse é meu maior presente, lembre-se dele e nos encontraremos novamente" e assim ela se foi. O jovem nunca iria esquece-la, e agora seu coração guiaria seus pés em direção a sua amada, pois ele sabia seu nome.

Arvad sorria, de forma genuína, de seus olhos lágrimas que ele não sabia discernir de onde vinha escorriam por sua face... Não lembrava onde havia ouvido essa musica, mas ela sempre a trazia uma felicidade única ao relembra-la.

A música da floresta deu espaço para a voz de Arvad naquela noite. Pareceu até que ela se silenciou para que pudesse escutar a canção, afinal não é toda hora que suas visitas a honram com singelos gestos como esse. Ao olhar ao céu, a lua lhe pareceu curiosa quando saiu tímida por de trás de uma nuvem. Ela queria assistir aquele pequeno espetáculo, dividindo a platéia com poucos animais que não se importavam em "dizer" que estavam ali, como a coruja em um dos galhos próximos ao rapaz.

O brilho da lua era o que iluminava aquela noite. As estrelas jamais ousariam sobrepujar esse esplendor. Graças a isso, Arvad pôde ver, na mesma margem onde estava, o seu cajado que havia sido levado pela correnteza. Ele estava enganchado em meio as pedras, era só puxar que poderia ter-lo de volta. Por um momento pareceu que a mãe natureza quis se desculpar por ter sido rude lhe devolvendo o seu pertence. E talvez até, agradecendo pela música cantada com uma verdadeira emoção.

Eu estava voltando com um pouco de lenha nas mãos para alimentar o impetuoso e voraz espírito do fogo quando ouvi aquela voz... A voz do filhote... Ela abria espaço entre os sons da grande mãe... Não... Parecia difícil acreditar, mas, a Grande mãe em todo o seu esplendor e equilíbrio se aquietou pra ouvir aquela voz, essa era a verdade. Aquela música que falava de amor e saudades e partidas e escolhas. Aquela música que me fizera lembrar da tribo e de como eu era quando filhote, de como eu mesmo não tive a chance de amar ninguém além da Grande mãe e o meu objetivo. Aquela música que mais parecia parte da Grande mãe e na verdade era. Logo eu que filhote, amava ouvir, estava ali sendo agraciado e ao mesmo tempo punido por guardar todos aqueles pensamentos e lembranças que pertenciam a outra pessoa, a um filhote que morrera sem nome é então, parado ali sem poder fazer nada além de ouvir, eu chorei, não um choro desesperado ou copioso, que era de se imaginar diante daquela melodia que trespassava como um ferrão de aço dos homens de fora. Apenas umas poucas lágrimas que serviram para limpar um pouco da sujeira que existia dentro de mim, apenas um pequeno soluço para que eu lembre o motivo de proteger todas as vidas da Grande mãe, um suspiro apenas pra dar espaço ao sorriso reisgnado de quem mesmo sem querer recompensa por cumprir sua obrigação recebeu desse filhote algo precioso, algo que era a sua maior alegria, que era ouvir. Eu não poderia ter tido sorte maior, o grande mestre não  poderia fazer algo mais equilibrado. Trazer alguém que fala para alguém que escuta. Talvez esse pensamento fosse orgulhoso e vaidoso demais pro Guardião que eu era, mas só por esse momento vou deixar passar. Percebendo então que tinha deixado cair a lenha, tornei a recolhe-la e tornei a levar pra alimentar o luminoso e devorador espírito do fogo.

--Ei! Meu cajado...

Arvad desceu da pedra onde estava e pegou seu cajado. "Pelo menos não vou precisar preparar outro." Pensou enquanto caminhava para onde estava sua fogueira. Ao se aproximar verificou se suas roupas haviam terminado de secar, infelizmente sua calça ainda estava úmida. Vestiu as roupas que estavam secas e sentou-se sobre sua capa para comer o resto das frutas e do queijo que tinha, separou a comida de forma que ele e o homem pudessem comer.

Estava sentado comendo, ainda com aquela melodia na cabeça, comia apenas por reflexo, apenas pra não fazer uma desfeita a Grande mãe, virei pro garoto:

--Onde aprendeu essa bela canção, que até a Grande mãe parou pra ouvir?

--Não lembro.

Arvad comia devagar para que a comida rendesse.

- Canções assim me lembram minha antiga tribo.
Falei mais pra mim mesmo do que pro jovem filhote, enquanto terminava de me alimentar.
-- Os filhos da grande mãe parecem ficar bem à vontade com você, isso é estranho por você ser de fora.

--Você fala dos animais? Pode ser por eles não me perceberem como uma ameaça. Algumas pessoas acreditam que os animais podem ver o coraçao dos homens, isso que assusta eles, eu ficaria assustado também.

Arruma um lugar não muito longe do fogo para dormir.

-- Não são os animais, são os filhos da floresta que não se pode capturar com seu olho, são... Espíritos?! Acho que é assim que vocês chamam. Todos nós temos, desde a árvore imponente e sabia até a formiga mais ocupada e simples, todos temos essa parte. Porém alguns apenas são espíritos de homens, mulheres e filhotes que se foram. Alguns protegem, outros são só travessos mas nenhum deles reclamou comigo por sua cau...
Quando percebeu que o filhote já tinha ido dormir.
Peguei mais um galho e tornei a alimentar o sempre luminoso e esfomeado fogo. Tornei a sentar para me concentrar nos sons da Grande mãe e dos espíritos ao meu redor, ficando em alerta a qualquer coisa que fosse ameaça?

A noite ia se passando de forma serena e tranquila. Os ventos frescos passavam através de vocês equilibrando a temperatura juntamente com a pequena fogueira. Com o tempo se passando, ainda estava de noite e a chama foi diminuindo devagar a medida que o tempo passava. A lua ainda brilhava pela noite, só não mais que uma luz vermelha ao horizonte. Os ouvidos do guardião captava barulhos de confusão. Isso com certeza não parece ser coisa boa.

Levantando sobressaltado diante o som de invasores e estranhos, tratei de acordar o filhote com urgência a essa altura a fumaça da fogueira que fizemos pode ter chamado a atenção de qualquer intruso ou ameaça.

--Acorde garoto temos intrusos perto da gente. Precisamos nos esconder agora!

Arvad levantou de sobressalto, pegou sua calça e a vestiu prontamente, cobrindo-se com a capa se esconde não muito longe.

A natureza parecia proteger Arvad, galhos moviam se de forma a ocultar seu corpo as lojas não faziam barulhos, nuvem encobria a lua quando necessário e aos poucos Arvad desapareceu na mata.

Vendo o filhote se escondendo, falei pro próprio escuro misterioso e enigmático.

--Oculta-me e ao filhote do olhar dos furiosos e do maus homens.

Peguei o cajado do filhote e fui em direção ao brilho misterioso tentando me ocultar nas sombras, precisava saber do que se tratava, ali era o lugar da Grande mãe, precisava saber se estava tudo certo.

Segue o homem, tentando evitar ser visto é de uma distância segura, Arvad sabia que era perigoso, que corria o risco de ser capturado novamente. Mas ele seria cuidadoso, não faria mal dar uma olhada... Seria rápido e ele não estava sozinho.

A medida que os passos levavam o guardião e o garoto curioso ao local percebiam que o som aumentava. E a luz também. Estava claro que aluz era de incêndio, e dos grandes. A violência parecia refletir nas chamas que estavam altas e fortes. Gritos começava a serem distinguidos. Eram de mulheres, criancas, homens.... moradores do vilarejo no qual era o objetivo de Arvad parecia que estava sobre ataque, ou algum tipo de devastação. A medida que se aproximavam, mais alto eram os gritos. Uma mulher com uma criança no colo se aproximava correndo. Ela estava com sangue ao corpo, seus olhos enxarcados das lágrimas que caiam. Ela não parecia ter visto vocês, mas estavam a se aproximar de vocês. Ela parecia fugir, pois seu medo e angústia eram claros.

Ao oivir o caos que estava instalado naquela tribo, saltei do meu esconderijo, tomado pelo súbito impulso de ajudar aquelas pessoas, porém me detive antes de me revelar totalmente tentando entender o que realmente estava acontecendo. Me amaldiçoei muito brevemente por minha visão falha onde só vultos passavam ao meu olhar. Pedi ao filhote que ouvia próximo que me descrevesse o que estava acontecendo de fato.

--Me diga agora o que está acontecendo, me diga!

Falei de forma quase imperiosa ao filhote.
Ouvia os gritos aflitos e o estalar orgulhoso do sempre insaciável espírito do fogo a minha frente, consumindo tudo.

Arvad se manteve escondido e em silêncio, estava preocupado com alguém estar seguindo a mulher. Já tinha visto aquela situação antes, cidades atacadas e sitiadas, ele temia pelo pior.  Avançou um pouco de forma  a sair do caminho da mulher e poder ter uma visão melhor da situação.

Ouviu apenas o silêncio como resposta, continuei me aproximando do caos e vira algo se aproximando dele aos prantos, voz de . mulher e um pequeno filhote chorando. Ao perceber o desespero dela me aproximei

-- O que está havendo? - me aproximei da mulher rapidamente porém tentando não assuta-la - Você está bem?

Ao ser segurada, a mulher se desesperou mais ainda. Quis se soltar das mãos daquele estranho.

- Pelo amor de Deus! - Ela gritava em desespero - Me solte! Não me mate, por favor!!

Ela segurava ainda mais a criança no colo, apertando-o contra o peito dela, como se tivesse protegendo-a.

Numa tentativa de acalma-la continuei perguntando de forma mais leve possível:

--Calma, apenas quero ajuda-la, o que está acontecendo, por favor, o que está acontecendo em sua vila? Você está ferida?

A mulher olhava para o guardião com os olhos em desespero.

- Homens... homens grandes.... com machados... invadiram nosso vilarejo! Não fizemos nada para merecer isso! Eles mataram muitos de nós!

A cada palava balbuciada, era uma lágrima de medo que descia dos olhos daquela moça.

- Eles estão por toda parte, eles vão nos matar... a todos! Corra você também!!

Por mais uma vez a mulher buscava querer se soltar do guardião, agora, não por medo dele, mas medo de achar que pode estar sendo seguida. Ela desejava correr dali, se salvar.

Arvad se manteve escondido, esperava o homem resolver o problema com a mulher para prosseguir para a cidade.

--Procure um lugar e se esconda e cuide do seu filhote, viu até sua tribo ajudar quem eu puder.
Sem esperar resposta, parti em direção a tribo com apenas o cajado em punho e torcendo pra que fosse suficiente, caso precisasse se defender.